O quadro Vozes Negras desta semana homenageia Abdias Nascimento.
Nascido em Franca, interior de São Paulo no dia 14 de março de 1914, Abdias é neto de Africanos escravizados e filho de pai sapateiro e mãe doceira. Ele era formado em Economia e Contabilidade, era artista plástico, poeta, escritor, dramaturgo além de professor universitário e um dos maiores militantes da luta contra o racismo da história brasileira.
Entrou para o serviço militar com apenas 16 anos e participou das Revoluções de 1930 e 1932. Posteriormente integrou a Frente Negra Brasileira trabalhando na perspectiva de tornar os negros como participantes ativos na sociedade de classes. Nessa mesma época também fez parte da comitiva que protestava contra Getúlio Vargas que resultou em sua prisão a mando do Tribunal de Segurança Nacional.
Organizou vários movimentos como a Convenção Nacional do Negro no RJ e SP, objetivando conscientizar a sociedade para a criminalização do racismo, bem como o primeiro Congresso do Negro Brasileiro em 1950. E, posteriormente em 1968, fundou o Museu de Arte Negra.
Abdias também foi perseguido pela Ditadura Militar, e por isso exilado nos EUA e em outros países da África e da América Latina. Teve oportunidade de lecionar em várias universidades com discussões que objetivavam a ascensão do negro na sociedade. Foi um dos responsáveis pela criação do IPEAFRO – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros na PUC SP. Também auxiliou na criação do Memorial Zumbi e, posteriormente, em 1983 criou a Revista Afrodiáspora. Ademais, foi titular da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro e o primeiro Deputado Federal a desenvolver projetos de lei de políticas afirmativas.
Além de participar ativamente na contribuição política e social para a sociedade, Abdias também desenvolveu importantes trabalhos autorais que tratam da temática do negro na sociedade, destacando-se como referência nos estudos de negritude.
Recebeu importantes títulos pela sua contribuição ativa, tais como: Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York em Buffalo, EUA, e Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1990). Recebeu também o prêmio “Herança Africana”, pela Schomburg Center for Research in Black Culture e o prémio UNESCO, na categoria Direitos Humanos e Cultura da Paz e, posteriormente, o prêmio “Cidadania Mundial” pela Comunidade Bahá'í do Brasil.
Abdias desenvolveu várias obras importantes, tais como:
- O genocídio do negro brasileiro, 1978.
- O negro revoltado. 1982. (com trabalhos apresentados no Primeiro Congresso do Negro Brasileiro, Rio de Janeiro, 26/08/1950 a 04/09/1950).
- Axés do sangue e da esperança, (Orikis). 1986.
Por fim, infelizmente Abdias morre aos 97 anos, em 23 de maio de 2011, mas deixa um legado importantíssimo para a luta antirracista.
“Uma coisa sensacional aconteceu comigo. Bloqueado pelo inglês, desenvolvi uma nova forma de comunicação. Descobri que possuía uma outra forma de linguagem dentro de mim mesmo: descobri que podia pintar; e pintando eu seria capaz de mostrar o que palavreado nenhum diria. Uma experiência difícil de explicar. O mais apropriado mesmo é dizer que os orixás baixaram e que pinto em estado de comunicação íntima com os orixás.”
Texto po: Débora Andrade