Por: Michelle Martins
A sexualidade não está atrelada exclusivamente ao ato sexual, ela nasce com a pessoa e diz respeito a sexo biológico (macho/ fêmea/ intersexo), a identidade de gênero (homem/ mulher/ transexual), a orientação afetivo sexual (heterosexual, homoesexual, bisexual,pan, etc) e segunda a OMS (1975) sexualidade “é a energia que motiva a encontrar o amor, contato e intimidade e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas, e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, portanto a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, à saúde sexual também deveria ser considerada um direito humano básico."
Entendo então que uma sexualidade sadia é uma das bases para nossa qualidade de vida. Porém, é possível ter uma sexualidade bem vivida, quando nos dizem como vivê-la? Porque infelizmente, esta é uma das características da nossa sociedade: querer ditar como as coisas devem ou não ser vividas e excluir o que é diferente, o que incomoda.
Como mulher, vim falar do lugar de alguém que não teve uma educação sexual apropriada na escola, que em casa só o que ouviu sobre o assunto foi sobre como não deveria engravidar “antes da hora”, de jeito nenhum, para não ser colocada na rua e que, embora mal falada na adolescência por namorar bastante, perdeu a virgindade tardiamente para os padrões, receosa de perder o passaporte que a igreja prometeu para o céu. E o que eu consegui com isso? Bloqueios que me acompanharam por muito tempo.
Não estou dizendo que não é bom ter um planejamento adequado para engravidar, caso haja esse desejo, que não se deve namorar o quanto quiser ou que existe hora programada para perder a virgindade.
Pelo contrário, quero alertar para a necessidade de falarmos sobre sexualidade e sobre sexo, para termos controle e responsabilidade sobre essas escolhas, para termos qualidade de vida com elas, e mais que isso, na psicanálise vemos que para Freud a libido está ligada à pulsão de vida, uma energia realizadora que leva ao desenvolvimento do indivíduo.
Quando perdi a virgindade, ainda assim não foi por uma escolha minha, foi para corresponder à expectativa de um outro, a quem veja bem, nesse momento eu dava mais importância do que o meu sonhado passaporte para o céu. Como pode haver satisfação nesse ato que não é para mim, é para o outro? E quantas meninas/ mulheres não vivem isso? Por falta de uma maior experiência consigo próprias, devido ao anulamento de sua sexualidade por tantas restrições e receios, entregam a responsabilidade do seu (não) prazer nas mãos do outro e assim se abstém de uma possível culpa? Quantos meninos/ homens não acatam a uma pressão patriarcal e depois de aulas de pornô vão com falsas expectativas exercer sua sexualidade? Ou são por essas massacrados?
Depois de muito trabalho mental, leituras, exercícios práticos e uma redescoberta de mim como mulher, com direito a viver uma sexualidade plena, venho me descobrindo também como alguém responsável por meu prazer e mudando minha relação com a sexualidade.
Hoje não a percebo como fonte de receio, culpa ou vergonha, mas como sinal, sim, de saúde. O sexo não é mais um lugar tedioso em que me coloco a disposição do outro, mas um lugar de encontro primeiro comigo e só depois com o outro, num espaço de troca de energias em que estou inteiramente presente e responsável por minhas escolhas, em que me reconheço forte em aceitar a vulnerabilidade que aquele momento me pede, em que a cada toque sei mais de mim e me aproprio mais da minha vida.
E esse é o convite do meu texto. Reflita sobre sua sexualidade. Pense em quanto a sociedade influencia a forma como você a vive. Pense em quanto você faz por você ou se é pelo outro. Pense sobre seus desejos, suas vontades, em que lugar você coloca sua sexualidade na sua vida, se isso te faz feliz e no quanto você se responsabiliza por isso.
E caso você se sinta bloqueadx de alguma forma sobre sua sexualidade e ainda não se sente à vontade para falar sobre isso, não acate a esse silenciamento que a sociedade impõe. Leia, veja vídeos, se permita experimentações e quando se sentir à vontade fale. Precisamos naturalizar esse assunto, porque não é calando que se previnem os problemas, é dialogando sempre, mais e mais.